domingo, 8 de setembro de 2013

Tecnologias: escravidão digital ou emancipação analógica?

  • Tecnologias: escravidão digital ou emancipação analógica?

    O Diário lembrou, no domingo (6 de setembro), que a internet está completando 40 anos. Para uma parte da geração de jovens, adolescentes e crianças ela sempre existiu. Digo uma parte porque nem todos têm acesso à rede. São os chamados excluídos digitais.

    Mas o fato é que essa jovem senhora de 40 anos está em nosso meio, permeando nossas relações profissionais e pessoais, transformando o nosso cotidiano. 

    Como aconteceu dia desses... Estava entrando no elevador do aeroporto Internacional Afonso Pena, em Curitiba, com meus dois pendrives pendurados ao pescoço, quando me fizeram o seguinte comentário: ¿Nossa, eu já vi muitas pessoas carregarem um pendrive, mas dois é a primeira vez. Isso que é escravidão digital!¿

    Essa expressão ¿escravidão digital¿ fez-me refletir acerca da inserção das tecnologias em nossa sociedade, bem como seus aspectos mais evidentes. Será que a internet e toda a revolução tecnológica trouxeram para nossa época uma escravidão digital ou emancipação analógica? 

    São dois pontos de vistas, dois modos de ver. Quando pensamos que a era digital veio nos emancipar e nos libertar de algumas rotinas e atividades, podemos pensar que estamos passando por um processo de ganho, superação e liberdade.

    Hoje podemos ir ao banco (virtualmente falando) e verificar nossas contas e transferências sem sairmos de casa. Podemos comprar passagens aéreas, de móveis a panelas, e outras muitas coisas por meio de alguns toques ao teclado do computador. Comunicamos via e-mail, via redes sociais, como Orkut e Facebook. 

    Conversamos sincronicamente pelo MSN ou Skipe, com diferentes pessoas, em diferentes lugares. Essas tarefas hoje demandam menos tempo, menos deslocamentos, menos esperas. No meu pendrive posso levar minhas músicas, filmes, vários textos, livros digitais e arquivos complexos para qualquer lugar, sem peso, sem volume. 

    O que antes não era possível, ou mais difícil, está muito mais simples. Por outro lado, a tecnologia pode também escravizar. Pensemos um pouco na condição do ser escravo. Escravo é aquele que não tem liberdade de escolha, que está sujeito a um cativeiro, que não consegue administrar a sua própria vida. 

    Essa relação de prisão pode sim ocorrer na relação tecnologia-homem. Há aqueles que se viciam no uso de tecnologias, mergulhando cotidianamente no mundo digital, perdendo a interação e o contato social presenciais. 

    Desejam e permanecem tanto online que, quando não estão conectados, sentem-se isolados, irritados, chegando a desenvolver fobia social e problemas de atenção. Qualquer tipo de vício é cativeiro e tolhe a liberdade de qualquer cidadão. Como já atestou o neurocientista Gary Small ¿a tecnologia traz problemas quando usada em excesso¿.

    No entanto, se usarmos as tecnologias para suprir nossas demandas, sem nunca nos esquecermos do bem comum, podemos nos apropriar da internet, pendrives, iPod e todo e qualquer aparato tecnológico. 

    Portanto, àqueles que esperavam por uma resposta unilateral, faço minhas as palavras do filósofo da informação, o francês Pierre Lévy que já pontuou: vivemos em um dilúvio informacional e este nunca cessará.

    Teremos, que nos adaptar às novas formas de ver mundo e ensinar a nossa geração para o uso consciente das tecnologias, ensinando-a a navegar sob o mar de informações de uma nova complexidade universal.

    Nem salvação, nem perdição. Nem escravidão, nem emancipação. Como ocorre com qualquer ferramenta, as tecnologias vigentes podem ser utilizadas de forma autônoma, emancipadora e interativa se nós, cidadãos e sujeitos de nossa própria história, fizermos o exercício de antes compreender a natureza das tecnologias que aí estão e refletirmos sobre o seu potencial. Depende da maturidade ética de quem as usa e para quê fim.


http://www.odiario.com/opiniao/noticia/225560/tecnologias-escravidao-digital-ou-emancipacao-analogica/

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