A era da escravidão digital
Ficar sem internet é uma tortura e checar as mensagens e os e-mails virou um vício difícil de superar
Mikaella Camposmalmeida@redegazeta.com.br
Marcelo Botelho é apaixonado por tecnologia. E esse amor refletiu na sua escolha profissional. Dono de duas empresas na área, o empreendedor precisa ficar o tempo todo conectado. Mas já sofreu muito mais com essa chamada escravidão digital vivida pelos profissionais de hoje.
Quando ia para casa, depois de mais uma jornada de trabalho, ele monitorava o atendimento aos clientes pelo notebook. Na hora de dormir, o celular continuava ao seu lado. Ele chegava a ficar mais de 18 horas ligado. "Essa angústia não tinha fim. Não conseguia cuidar mais de mim", conta.
Assim como aconteceu com Botelho, muitos profissionais vivem 24 horas "plugados" às atividades. Alguns chegam a ter mais de três aparelhos de celular para garantir acesso à rede o tempo todo. Além dos smartphones, esses trabalhadores estão sempre com um tablet ou um notebook. Ficar sem internet é quase uma tortura e checar as mensagens e os e-mails virou um vício difícil de superar.
Mesmo depois de um dia tenso de trabalho, essas pessoas acreditam que existe a necessidade de dar mais uma analisada nos relatórios das empresas. Alguns documentos ou programas são armazenados na "nuvem" (espaços na internet) para serem acionados de qualquer lugar.
A gama de recursos oferecidos pelo mercado é tentadora para quem tem um perfil workaholic, ou seja, é viciado em trabalho. Esses brinquedinhos acendem a vontade de mostrar produtividade e de continuar, em casa ou na rua, o que se iniciou no empresa.
CrackBerries
No mercado, esses profissionais já são apelidados CrackBerries, uma referência aos usuários de BlackBerry que se comportam com a mesma compulsão que os viciados em crack para olhar as mensagens que recebem do patrão ou dos clientes.
Marcelo, por exemplo, encontrou uma solução para sua vida de conectado. Os sistemas desenvolvidos pela sua corporação, principalmente para empresas da área de saúde, são monitorados 24 horas por dia por uma espécie de robô. "Ainda ando com dois celulares e fico sempre com um notebook na bolsa. Mas não preciso mais verificar a todo instante se os sistemas estão em pleno funcionamento. Só quando ocorre um problema, grave meus smartphones são acionados. Mas hoje consigo me desligar do trabalho e ter momentos de lazer".
Outro profissional que trabalha com área digital, Celso Fortes, alerta sobre o estresse gerado devido ao comportamento 100% on-line. "Costumo dizer que hoje é o computador que espera o homem ligar. É impossível acompanhar a máquina. É capaz de o trabalhador pifar antes do notebook", brinca.
Segundo ele, vários profissionais ainda não sabem lidar com a informação. "Eles ficam ansiosos e querem uma resposta imediata. Antes as pessoas tinham paciência para esperar um retorno de um negócio. Às vezes, demorava dias. Agora, o trabalhador não consegue esperar e, por isso, vive sempre em hora extra, mesmo estando em casa", disse.
É preciso criar rotina para acessar iPhone
Para todo executivo, um smartphone é algo imprescindível. O aparelho funciona como uma espécie de agenda. É possível verificar informações importantes, acessar os e-mails e até conversar com colegas por meio das redes sociais. E o gerente de projetos da Inflor, empresa de Tecnologia da Informação, Jonas Lugon, aprendeu a controlar o uso do seu iPhone. "O segredo é não olhar. Também estabeleci uma rotina. Saio todo o dia, por volta das 17 horas da empresa, faço atividades física e depois tento relaxar. Só dois dias da semana que me permito utilizar o aparelho fora do ambiente profissional, quando me comunico com funcionários da empresa que atuam no Chile e na China", disse. Todo esse controle tem um motivo. Jonas já foi escravo do trabalho. "Eu não conseguia nem sentar na mesa de um bar para conversar com amigos, pois eu monitorava o trabalho da empresa pelo celular. Agora, só trabalho fora do horário se alguma emergência acontecer", explica.
Especialistas condenam uso em excesso
Estar conectado na maior parte do tempo para algumas pessoas é reflexo de produtividade. Para as empresas de recursos humanos, isso pode significar insegurança e falta de planejamento. A dica para não ser escravizado é conseguir dominar a vontade de acessar aos recursos tecnológicos.
O headhunter Ricardo Nogueira, da empresa de seleção Junto Brasil, explica que é irreversível o avanço da tecnologia sobre as relações de trabalho, mas é preciso bom senso ao usá-la.
Segundo ele, ao receber um smartphone da empresa, por exemplo, o profissional precisa entender que o aparelho é uma ferramenta de produtividade e não benefício.
É importante, então, não usar o aparelho como uma ferramenta de diversão nem ficar refém das suas funções.
Alguns aparelhos, como iPhone e o BlackBerry, por estarem ligados à internet, recebem e-mails e avisam o usuário sobre as mensagens. Então, ao chegar em casa, a saída é desligar o equipamento.
"A convergência da tecnologia com o ambiente de trabalho é forte. Mas o trabalhador, ao chegar em casa, precisa se desconectar. Se não fizer isso, a pessoa começa a ter paranóia por acreditar que todas as mensagens são importantes e não é capaz de passar momentos com a família", disse.
Para se livrar da escravidão do smartphone ou notebook, o trabalhador deve ser mais organizado, ter hora para entrar e sair do trabalho. E nas horas de folga, privilegiar atividades de lazer que fogem um pouco da rotina do computador, como ir ao cinema, praças e shopping.
Marcelo Botelho é apaixonado por tecnologia. E esse amor refletiu na sua escolha profissional. Dono de duas empresas na área, o empreendedor precisa ficar o tempo todo conectado. Mas já sofreu muito mais com essa chamada escravidão digital vivida pelos profissionais de hoje.
Quando ia para casa, depois de mais uma jornada de trabalho, ele monitorava o atendimento aos clientes pelo notebook. Na hora de dormir, o celular continuava ao seu lado. Ele chegava a ficar mais de 18 horas ligado. "Essa angústia não tinha fim. Não conseguia cuidar mais de mim", conta.
Assim como aconteceu com Botelho, muitos profissionais vivem 24 horas "plugados" às atividades. Alguns chegam a ter mais de três aparelhos de celular para garantir acesso à rede o tempo todo. Além dos smartphones, esses trabalhadores estão sempre com um tablet ou um notebook. Ficar sem internet é quase uma tortura e checar as mensagens e os e-mails virou um vício difícil de superar.
Mesmo depois de um dia tenso de trabalho, essas pessoas acreditam que existe a necessidade de dar mais uma analisada nos relatórios das empresas. Alguns documentos ou programas são armazenados na "nuvem" (espaços na internet) para serem acionados de qualquer lugar.
A gama de recursos oferecidos pelo mercado é tentadora para quem tem um perfil workaholic, ou seja, é viciado em trabalho. Esses brinquedinhos acendem a vontade de mostrar produtividade e de continuar, em casa ou na rua, o que se iniciou no empresa.
CrackBerries
No mercado, esses profissionais já são apelidados CrackBerries, uma referência aos usuários de BlackBerry que se comportam com a mesma compulsão que os viciados em crack para olhar as mensagens que recebem do patrão ou dos clientes.
Marcelo, por exemplo, encontrou uma solução para sua vida de conectado. Os sistemas desenvolvidos pela sua corporação, principalmente para empresas da área de saúde, são monitorados 24 horas por dia por uma espécie de robô. "Ainda ando com dois celulares e fico sempre com um notebook na bolsa. Mas não preciso mais verificar a todo instante se os sistemas estão em pleno funcionamento. Só quando ocorre um problema, grave meus smartphones são acionados. Mas hoje consigo me desligar do trabalho e ter momentos de lazer".
Outro profissional que trabalha com área digital, Celso Fortes, alerta sobre o estresse gerado devido ao comportamento 100% on-line. "Costumo dizer que hoje é o computador que espera o homem ligar. É impossível acompanhar a máquina. É capaz de o trabalhador pifar antes do notebook", brinca.
Segundo ele, vários profissionais ainda não sabem lidar com a informação. "Eles ficam ansiosos e querem uma resposta imediata. Antes as pessoas tinham paciência para esperar um retorno de um negócio. Às vezes, demorava dias. Agora, o trabalhador não consegue esperar e, por isso, vive sempre em hora extra, mesmo estando em casa", disse.
É preciso criar rotina para acessar iPhone
Para todo executivo, um smartphone é algo imprescindível. O aparelho funciona como uma espécie de agenda. É possível verificar informações importantes, acessar os e-mails e até conversar com colegas por meio das redes sociais. E o gerente de projetos da Inflor, empresa de Tecnologia da Informação, Jonas Lugon, aprendeu a controlar o uso do seu iPhone. "O segredo é não olhar. Também estabeleci uma rotina. Saio todo o dia, por volta das 17 horas da empresa, faço atividades física e depois tento relaxar. Só dois dias da semana que me permito utilizar o aparelho fora do ambiente profissional, quando me comunico com funcionários da empresa que atuam no Chile e na China", disse. Todo esse controle tem um motivo. Jonas já foi escravo do trabalho. "Eu não conseguia nem sentar na mesa de um bar para conversar com amigos, pois eu monitorava o trabalho da empresa pelo celular. Agora, só trabalho fora do horário se alguma emergência acontecer", explica.
Especialistas condenam uso em excesso
Estar conectado na maior parte do tempo para algumas pessoas é reflexo de produtividade. Para as empresas de recursos humanos, isso pode significar insegurança e falta de planejamento. A dica para não ser escravizado é conseguir dominar a vontade de acessar aos recursos tecnológicos.
O headhunter Ricardo Nogueira, da empresa de seleção Junto Brasil, explica que é irreversível o avanço da tecnologia sobre as relações de trabalho, mas é preciso bom senso ao usá-la.
Segundo ele, ao receber um smartphone da empresa, por exemplo, o profissional precisa entender que o aparelho é uma ferramenta de produtividade e não benefício.
É importante, então, não usar o aparelho como uma ferramenta de diversão nem ficar refém das suas funções.
Alguns aparelhos, como iPhone e o BlackBerry, por estarem ligados à internet, recebem e-mails e avisam o usuário sobre as mensagens. Então, ao chegar em casa, a saída é desligar o equipamento.
"A convergência da tecnologia com o ambiente de trabalho é forte. Mas o trabalhador, ao chegar em casa, precisa se desconectar. Se não fizer isso, a pessoa começa a ter paranóia por acreditar que todas as mensagens são importantes e não é capaz de passar momentos com a família", disse.
Para se livrar da escravidão do smartphone ou notebook, o trabalhador deve ser mais organizado, ter hora para entrar e sair do trabalho. E nas horas de folga, privilegiar atividades de lazer que fogem um pouco da rotina do computador, como ir ao cinema, praças e shopping.
Nenhum comentário:
Postar um comentário